Fascina-me imaginar os teus olhos percorrendo estas letras que redijo carinhosamente; ou, talvez, as tuas mãos tocando-as e/ou teus ouvidos escutando-as. Interessa-te saber um pouco mais sobre quem sou, por isso tu estás aqui. A minha escrita guarda minha essência em suas entrelinhas mais profundas, portanto, tu poderás apreciar cada poética manifestação do meu ser sempre que se permitir deleitar-se com a minha Literatura. Mesmo assim, compreendendo a tua curiosidade em saber um pouco mais da minha escuridão e em revelar, gradativamente, a minha pele. Estou falando essencialmente da Escrita.

A Pele e a Escuridão definem muito do que sou, por isso as mencionei. Sobre a pele estão as sensações, a sensualidade, as percepções do mundo, a melancolia, o prazer, a sensibilidade; e sobre o breu residem os segredos da alma, do abismo, os medos, as dores e a soturnidade. Essa é minha Literatura, é a Pele e a Escuridão. Gosto das palavras que um amável amigo deixara para mim em uma fotografia que publiquei em minha rede social: “Pele cor de livro, páginas e páginas clamando por tinta, soturna e sanguínea, salaz e lúgubre” — isso define, com perfeição, o meu universo. 

Escrevo-te no mês de agosto; dia oito. Em vinte dias farei trinta invernos vividos e agrada-me compartilhar com o mundo aquilo que faz parte de meus modos-de-ser. Minha visão peculiar da existência e a manifestação mais pulcra do meu âmago são verdades que significam muito mais quando redigidas, pois são eternizadas, quebrando o aspecto efêmero da vida. Quero dizer, escrevo para ser eterna e escrevo porque, só assim, existo; a maneira como sou vinculada às palavras conduz minha natureza — eu respiro letras e as sorvo com lentidão venérea, alimento meu espírito com elas, e minha carne.

Há letras em meu plasma, nas hemácias, nos leucócitos e nas plaquetas; há versos inteiros nas artérias, nos órgãos e neurônios; escrevo de olhos fechados, adormecida ou acordada. Se há algo de valor a revelar-te, pois, é isto: sou a Escrita em si mesma, personificada humana. Só posso ser alcançada, portanto, aqui; com tua leitura atenta. E se busco a eternidade nesta vida, mesmo sendo a Escrita e, portanto, sendo um marco histórico da humanidade, é porque ainda falta muito para que todos aprendam o verdadeiro valor das palavras. Verba volant, scripta manent — um fato olvidado. 

Essa revelação… ela me imerge em sensações intensas, pareço ser tomada por algo além de mim e, então, me emociono. Tu que estás aqui, podes sentir? A Escrita conduzindo-nos em silêncio… minhas palavras nascendo em tua mente, percorrendo cada espaço de teu ser, exalando dos poros de tua pele... Aqui, na leitura e na escrita, reside a mais genuína Sara Melissa de Azevedo. Letras, páginas, palavras inteiras. Somente aqui um límpido vínculo pode nascer, pois a vida mundana não comporta a perfeição magistral do que se desvela na Escrita.

Confundo-me, por vezes, e falo como sendo eu mesma a Escrita e, noutras vezes, como sendo “ela, a Escrita”. Eu não sei onde começo, não sei onde ela termina — simbiose, é isso. E... hum... questiono-me o que tu queres, de fato, descobrir nos arcanos deste lugar — se toda a mundanidade é irrelevante, o que resta? Resta a pele, na volúpia; resta a escuridão, no terror; resta a Escrita, eu mesma, em longas construções frasais; resta o essencial: a Literatura. Mas, tu queres a profundez das letras? Se sim, então venha.

Venha... dê à imaginação essa metamorfose — a Escrita é tudo o que quer ser, e assim eu também o sou, ela se exterioriza multiforme e, a cada leitura, ela se metamorfoseia outra vez, e assim eu também o sou. Se te apeteces conhecer-me, só há um caminho: ler-me. Não há um atalho. E este é só o começo.