A Anestesia da Indiferença enquanto Silêncio e Solidão

 

Lavery - Maiss Auras (1900)

 

É inevitável que o tempo adiante, em cada passo dado na torrente de seu próprio existir, a anestesia da indiferença. Não se trata de apatia ou ignorância, mas de consciência e compreensão de que para a vida humana ser bem vivida, é preciso silêncio e solidão. Engana-se aquele que pensar o silêncio como ausência de sons — ou diminuição extrema de tais — e a solidão como isolamento total dos pares partindo do sentimento de lúgubre vazio. Não. Há silêncio também nos sons, seja uma música, um diálogo ou o gotejar de uma chuva amena; há solidão no sentimento de plena completude e até mesmo no estar-em-companhia. Não é sobre ausências ou multidões, a Solidão é um estado de espírito e, o Silêncio, um modo-de-ser.

A anestesia da indiferença é o silêncio e a solidão como estado de espírito e modo-de-ser; neles reside o saber de que nada se pode fazer com os instantes da vida senão aceitá-los ou ressignificá-los ou, ainda, transformá-los — este último sob a ciência de que só se pode mudar a si mesmo e nunca o outro ou o passado. Partindo desta ciência, as emoções mais hostis encontram o equilíbrio preciso para se manifestarem sem alarde — e as emoções eufóricas também, pois engana-se aquele que pensa que, sobremodo as emoções prazerosas, não precisam em si mesmas de dosagem; elas, na verdade, são estritamente responsáveis pelos níveis alarmantes das emoções hostis, pois elevam demais o nosso espírito e declinam com rapidez exacerbada, causam uma queda brusca e trazem, com isso, consequências destrutivas para a psique humana.

Deste modo reitero que, neste texto, a explicação dos termos “anestesia” e “indiferença” está, tão somente, na redução da sensibilidade e na tranquilidade da compreensão. É o silêncio e a solidão como estado de espírito e modo-de-ser que proporcionam a redução da sensibilidade — trazendo o equilíbrio e a noção consciente das coisas, situações ou pessoas que nos afetam; enquanto a tranquilidade da compreensão nos permite enxergar e entender nossos limites e nossos tempos, pois que há tempo para todas as coisas e nossos limites precisam ser cuidados e protegidos — haverá sempre o tempo adequado para ultrapassá-los também. Desconsiderem, para manter a sanidade, a ideia errônea de que devemos, constantemente, sermos pessoas melhores — desconsidere ainda mais o significado generalizado do “ser uma pessoa melhor”; ser-melhor requer, profundamente, cuidado e respeito consigo mesmo e estes dois são encontrados e aflorados no Silêncio e na Solidão.

Sim, é um privilégio vivenciar a anestesia da indiferença enquanto silêncio e solidão; quaisquer mudanças em larga escala sempre se iniciam no individual, pois que o exemplo é inestimável e nele está o verdadeiro aprendizado. Aproveite o seu privilégio de poder ler este texto e pensar a respeito do que se apresenta a você; sua mudança pessoal refletirá na totalidade do mundo.

Sara Melissa de Azevedo

Diga-me, apreciaste esta obra? Conta-me nos comentários abaixo ou escreva-me, será fascinante poder saber mais detalhes da tua apreciação. Eu criei esta obra com profundo e inestimável amor, portanto, obrigada por valorizá-la com tua leitura atenta e inestimável. Meu nome é Sara Melissa de Azevedo. Sou Escritora, Poetisa e Sonurista. Formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial. Sou a Anfitriã dos projetos literários Castelo Drácula e Lasciven. Autora dos livros “Sete Abismos” e “Sonetos Múrmuros”. SAIBA MAIS

Anterior
Anterior

Outono no.1

Próximo
Próximo

Instantes 02