O Lírio e o Lago

 

Anthonore Christensen - Forest Lake with Blooming Water Lilies and Insects

 

De modo sensível e vago
Protejo em meu peito, dorido,
Um lírio tão pulcro e um lago
Com águas de morte, contido,
Ao lado de incerto amargor
Por onde há o semblante choroso
Que vejo n'um ninho vazio
E escrevo em papel tão poroso
Meu manto de inverno sombrio
Que sobre um cadáver feitio
Eu vejo no lago clivoso.

De modo aturdido este Lírio
Umbroso em lamúria é fissura
D'um cântico vasto em martírio
Por onde minh'alma é lagura
E, sendo, é vertida em ardor
E o líquido anil d'embriez
Deságua a regar meu florir
De lúgubre e grã profundez:
Angústia que faz meu sorrir
Tão lhano que emerge a asserir
Murmúrio em escol languidez.

De modo soturno e imersor
No Lago me habito silente
E o Lírio é meu triste candor
Um Lírio de níveo fulgor
Um Lago de eterna torrente.

Sara Melissa de Azevedo

Como Escritora, tenho inúmeros semblantes, sempre em busca do lírico, do intenso e do profundo. Como Poetisa, tenho a eterna sensibilidade e a vívida paixão. Como pessoa comum, sou mais uma na multidão em busca de compreender a si mesma. SAIBA MAIS

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