Indigo
Sei que estás aí… ouço-te no silêncio que emanas… o único silêncio que alcança as profundezas do meu ser. Eu te vejo. Estás me observando. Há quanto tempo? Não sei…, mas sinto. Diz-me, por quê? Por que estou como as sombras estão aos templos dilacerados debaixo do poente horizontal? Morrendo e vivendo, distante… por quê? Ah… sim… Tu não falas, tu não revelas… teu significado está aqui… e é a própria escuridão… e a luz… e a minha angústia.
Oh, sim, teu olhar para mim. Não tenho medo, não, eu não temo a tua constituição; teus olhos são prismas, tua verdade é absoluta… tu me olhas porque esperas de mim… a minha missão… por isso estou aqui. Mas… o amor… ah… o amor… distancia-me de ti tal como as cortinas distanciam a plateia do ator. Nenhum aplauso… eu sei… não há drama ou tragédia… não há ator. Quem eu sou sem a emoção? Tragas-me tu as respostas! Pares tu de me encarar!… Qual é o teu significado sem esse poço emocional que me perfura o órgão vital?… Nenhum… não ouses dizer o contrário… nenhum significado.
Vês?… Eu sou a melhor paisagem, o ar que se despeja na mentira da dimensão-comum… eu observo… eu observo como tu… eu sou tu? Não… oh então… eu me observo. O que tu és? O que nós somos? Deve haver alguma resposta, algum… amparo… se tu puderes me contar… eu… estou… aqui… não me deixes. Não vá. Não me deixes ir. Oh… por que não pode ser diferente? O que falta? O que falta em mim? As pequenas coisas… maravilhas ínfimas… são elas? Eu… eu sei… tudo bem… eu compreendo. O vazio sempre… sempre estará… dentro de nós.