Você ouve a sua própria voz em sua mente dizendo coisas para te acalmar ou te guiar na sua vida? E essas coisas são estranhamente muito sábias, como se a voz fosse mais emocionalmente estável, mais cuidadosa e mais velha que você? É sobre isso que este texto se trata, porém sob uma ótica bastante abstrata e fascinante.

Espera-se, no entretenimento e nos estudos profundos das ciências quânticas e singulares, que a viagem no tempo seja possível no porvir e tal fenômeno nos proporcione o poder supremo sobre toda a fonte de vida. É um sonho, de fato, tão ambicioso. Mas aqui resguardo a verdade de que, ao passado e ao futuro, viajamos com frequência.

Volto ao passado quando me lembro criança, e lembro das dúvidas da mocidade e o quanto, hoje, respeito aquela que fui. Posso ver-me adolescente, amargurada pelos horrores da transformação íntima vivenciada, mas sei que sorrio quando eu, neste presente, reconheço o valor dessa garota que fui. E há uma comunicação entre nós, difícil de explicar, mas chego a cogitar que a voz que ouço na mente desde criança é a voz do meu futuro eu, por exemplo agora, o que mais ouço é “você está indo bem, não tenha pressa, respeite seu tempo”. Na adolescência eu ouvia muito aquilo que hoje penso da minha adolescência quando me volto ao passado, por exemplo, “está tudo bem, fique calma, você pode buscar um abrigo na Escrita e essas coisas que te envergonham não precisam ser carregadas para sempre”.

É fascinante pensar desta maneira, porque sinto disso uma veracidade incontestável. É mesmo a voz de hoje que eu ouvia no passado e decerto o que ouço hoje é a voz do futuro. Estamos nos comunicando. Tenho até mesmo intuições vívidas sobre o que haverá no futuro, certezas que não sei dizer a razão, elas apenas existem e eu sei o quanto são reais, pois o Ser é atemporal, derivado do cosmo, da natureza, e de tudo o que há, numa única linhagem de vida que compartilha uma consciência coletiva que se expande como o universo.

O leitor então pensa: “que loucura abstrata é essa?”, ora que a mente humana não se encaixa no método cartesiano, tampouco no raciocínio plenamente lógico e menos ainda no sobrenatural. Somos seres de natural intuição e de profundas habilidades que, para muitos é delírio, imaginação ou quaisquer manifestações divinas. Uma mente aberta, uma mente que não se satisfaz, ela consegue ver além do que se mostra ao perscrutar curiosa, atiçada pela dúvida eterna, os pormenores mais irrelevantes. Daí emerge as experiências mais puras e, por fim, atemporais. Mas, claro, o ideal é fazer isso com os pés no chão, sem sacrificar a racionalidade, sem sacrificar aquilo que somos.

Se você leu até aqui, devo-lhe uma explicação mais detalhada. A Consciência é atemporal, mas a nossa forma física não o é. Dentro do mundo físico temos a lei do tempo linear, e entenda “mundo físico” como tudo o que há na Terra em que vivemos, isso porque quando ao sairmos da Terra, o tempo já se modifica e as leis são outras. Portanto se o tempo é relativo desta forma, há de se esperar que o passado e o futuro não existam em “tempos específicos”, eles existem no tempo como um todo que, por sua relatividade, nos faz um convite à compreensão de que o tempo é atemporal.

A Atemporalidade une todos os momentos do tempo, enquanto escrevo este texto, estou nascendo em 1994 e estou concluindo meu curso de Psicologia em 2019. Para mim houve uma linearidade, porque no mundo físico, as impressões e percepções são principalmente regidas pelas leis que o governam, no entanto, para a minha consciência ou Ser — como você preferir chamar — tudo se expande e se transforma ao mesmo tempo. Somente minha consciência tem acesso a isso, porque embora ela esteja dentro de um corpo físico, sua constituição é o cosmo, absolvida das regras terráqueas, disponível aos dons da atemporalidade, mas, claro que estes dons são contraídos e bem sutis, afinal de contas, a consciência ainda está no corpo físico que habita um planeta que existe dentro de um tempo linear — aqui posso concluir que só acontece dessa forma porque não temos habilidades o suficiente para vivenciar leis diferentes, ainda temos muitos problemas primitivos para compreender dentro das leis do nosso mundo.

Portanto, quando no presente do meu corpo físico me vêm à memória uma época passada da minha infância onde senti determinada emoção; revivo a emoção, pois que, na verdade, ela está acontecendo naquele momento, naquela época, enquanto me recordo. Então meu corpo no presente físico, para se acalmar da emoção intensa, diz: “Respire, isso já passou, você consegue se livrar desse sentimento, apenas espere um pouco”. Esse “dizer” que pode ser apenas um mentalizar, alcança a consciência atemporal e chega até meu “passado”, por isso tenho tantas lembranças de ouvir esse apaziguamento, na infância e na adolescência, da minha própria voz mais madura dizendo coisas que eu, naquela época não poderia dizer a mim mesma, dada a minha imaturidade.

Eu constantemente ouço esses apaziguamentos, a minha própria voz dizendo coisas em minha mente que precisariam de muita sabedoria para serem formuladas, e eu tenho apenas vinte e sete anos, a minha sabedoria não se compara ao tanto de sabedoria que a minha própria voz em minha mente demonstra. Isso só pode significar o seguinte: O meu eu do “futuro”, mais sábio, mais prudente, vivido por tantas experiências, está me ajudando a existir em todas as fases da minha vida desde que nasci. Estamos, eu passado, eu presente e eu futuro, construindo juntos a nossa história e talvez você pense: “então já está tudo predestinado, o seu futuro existe na atemporalidade por que tudo já deu certo?”, é isso, mas não se trata de uma predestinação sobrenatural ou espiritual, o destino só foi possível porque dentro de minha conexão com a consciência atemporal, a minha vida foi possível.

E, bem, digamos que eu cheguei a tais análises ontem mesmo, então preciso analisar mais para explicar mais coisas. Pode ser que, por necessitar da cognição para se comunicar, a consciência só “venha à tona” após certa idade quando a personalidade já se moldou melhor; ou não, pode ser que ao nascer, no primeiro movimento de consciência, tudo se forme ligeiramente na atemporalidade, como portas e caminhos. Há muitas possibilidades, eu sei, e espero que até a velhice eu tenha desvelado mais desta descoberta fantástica, porque depois de anos sob uma cegueira advinda da religião e depois de anos cega pela ciência, ser capaz de ver além de tudo isso é fascinante demais para mim! E estimula cada célula do meu corpo.

Sara Melissa de Azevedo

Diga-me, apreciaste esta obra? Conta-me nos comentários abaixo ou escreva-me, será fascinante poder saber mais detalhes da tua apreciação. Eu criei esta obra com profundo e inestimável amor, portanto, obrigada por valorizá-la com tua leitura atenta e inestimável. Meu nome é Sara Melissa de Azevedo. Sou Escritora, Poetisa e Sonurista. Formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial. Sou a Anfitriã dos projetos literários Castelo Drácula e Lasciven. Autora dos livros “Sete Abismos” e “Sonetos Múrmuros”. SAIBA MAIS

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