Memórias da primeira grande guerra
Ao leito que me tem há tantos anos
conto as áridas noites do passado,
jamais trarão sereno sonho alado
meus ares tão perdidos, levianos;
Ao berço que me teve n'outras eras
de infantis fantasias inocentes,
rogo tenhas piedade destas meras
loucuras de velhices decadentes;
Meu rosto enrugado de horrores
por lembranças do sangue denso e rubro…
O soturno temor — turvos calores —
rasgando-me por dentro no delubro;
Escondido e afetado eu vislumbrei,
pelo culto de face inominável,
entidades erguerem-se, bem sei,
silentes em poder inigualável;
Semblantes símeis aos sujos abutres
e de corpo com vísceras à vista,
seus eflúvios carníferos, agrores!
Piores que o pavor novecentista;
Respingos de salino ardor sem dós,
tantas almas no antro sanguinário!
Eu queria não ter visto este cenário
que as bestas eram como somos nós!