Quanto o tempo resiste na memória?
Ó, dos féis que amarguram o meu cerne
estes ventos pretéritos estão,
pois me guiam n'outrora que concerne
às belezas que nunca voltarão,
mesmo sempre almejando que se eterne,
vejo as sombras da idade em seu clarão,
são-me, tais, a penúria de meu cerne;
Sinto as marcas nascendo em minha fronte,
todo pássaro canta lentamente,
tal nostálgica aura é horizonte,
minha essência parece mais clemente,
peço e rezo que exista alguma fonte
p'ra trazer-me, os prelúdios, ternamente,
plenos ares do estro como ponte;
Mesmo embora eu fosse solitária
— como sou desde então, mas em tristura —
lá havia uma mágica lendária
qual vestia em mim íntegra armadura;
Era árdua, porém, revigorante,
neste agora se faz fastidiosa,
tudo pende em sonhar nadificante,
só o fino lembrar mantém-me airosa.