Augúrio d’Inverno
Quão frígido há de ser este solstício…
Sinto os ares regélidos soprando
Mesmo à clausura, em febre, é propício
Que este tempo vil beije-me nefando;
Nesta grã solidão, profundamente,
Ouço o aljofre que vítreo faz remanso
À mirrada folhagem putrescente
Núrida¹ sob a paz de seu descanso;
Símil à cavidade do meu peito
Como a viva estranhez deste meu leito
Onde só o coração faz-se escutado…
Tanto pulsa em sonhar n’esta escassez
P’ra que minh’alma em verso delicado
Volte tal o estio volta ensolarado
P’ra sonura ser soneto outra vez.
Elucidário: ¹ Núrido (adjetivo) Que possui profundidade soturna e aspecto sublime.