Cruel Delírio
Que ardor… Cri na mendaz ilusão
Teus olhos negros na escuridão
Fisgados por entre meus vitrais
Sutil luzido sob céus astrais
Enquanto o sopro frio em tua feição
Na aragem de aspectos brumais
Aluíra-me o infeliz coração.
Fui dentre os pinheiros te buscar
Nas sombras tua voz grave a chamar
Meus pés descalços, e eu tão marfim,
Que espinhos emergiram sob mim
Num negro roseiral de agoniar
Deixei um rastro em sangue carmesim
Horrores vis verti em lacrimar.
Que pouco a pouco a morte fatal
Viera à minha solidão cabal
Caíra ao meu ruir, ó, tão silenciado
Que fim; que epílogo consumado!
Roguei fraca por tu’alma abissal
Tal como fiz à tua cova, amado…
Tal como fiz no rito à catedral.
Senti tua presença eterna em tez
Fitei o envolto turvo em frigidez
Havia da noite a treva somente.
Tal como tu eras, intransigente,
Ela urgia muda, um mal imanente
Eu sob seu manto em languidez.
N’aurora, pois, voltei à lucidez
Tu foste a ilusão, ó, tristemente,
E eu só queria amar-te a última vez.