Sonetos e Amores - Sorinne
Sorinne era, de fato, apaixonada por flores quentes, em especiais as vermelhas, no entanto, ela raramente as via no jardim, pois preferia ficar continuamente dentro do castelo de Von Sirehn peregrinando nos corredores, sempre com um livro em mãos. Sorinne considerava o mundo hostil, e de fato era; lembrava-se sempre de um antigo amor que durara tão pouco, menos do que todo o verão; ele a prometia cartas de amor, vínculos inefáveis e carinho, mas jamais escreveu, jamais doou-se de coração à reciprocidade. O mais amargo deste romance era o fato de que o rapaz, lembre-se dele como F., adentrou a vida de Sorinne em tempos de felicidade e plenitude, e saiu em tempos de tempestade e solidão. F., na verdade, trouxera toda a languidez e até hoje, cinco anos depois, Sorinne permanece em sua própria companhia e recorda com frequência das palavras de Lord Von Sirehn: “Os homens, minha querida Sorinne, se aproximam das mulheres mais felizes, pois estas são as mais belas. Todo o cuidado é precioso, contudo, pois, eles tendem a destruir a beleza por causa da ausência de tato advinda de suas amarguras viris. Não são todos, é verdade, mas repare bem se F. é mesmo uma exceção”. F. não era uma exceção e Sorinne esperava, de coração, que um dia ele fosse.
— Anne? O que está fazendo? — questionou Sorinne ao passar lentamente pela porta do quarto de Anne e percebê-la, de soslaio, concentrada em redigir sobre alguns papéis. Anne não olhou para Sorinne.
— Escrevendo uma carta para Ewen, adicionando alguns de meus sonetos — ela respondeu, concentrada.
— Para quê perder tempo com isso? Homens não leem sonetos, quero dizer, no início eles leem, mas depois que casar-se contigo, há de perder totalmente o interesse. É um artifício para te conquistar — proferiu Sorinne com profunda amargura, embora seu tom fosse divertido para Anne que sorriu e olhou sua amiga encostada à porta, abraçada a um livro.
— Acho que tu tens razão, mas não me importo muito. Amar um homem requer abrir mão de algumas coisas para poder ter outras — respondeu astuta. Sorinne movimentou seus ombros expressando desdém.
— Pois eu me recuso! Não me contento com pouco!
— É… Sori… Estou vendo… — julgou cuidadosamente.
— “Estou vendo” — Sorinne a imitou e trouxe sorrisos à Anne outra vez — Tu te lembrarás dessa conversa quando notar que teu futuro despe mais teu corpo do que tua alma! — Sorinne voltou à caminhada e Anne adicionou um novo parágrafo à carta que escrevia para Ewen: “Querido Ewen, a alma é mais valiosa que o corpo e, daqui há alguns anos, espero que te lembres disto”.