O Ardor da Sexualidade Feminina
A sexualidade feminina fora uma questão obscura ao longo da evolução humana, em razão das constantes opressões ao gênero e, principalmente, a partir da cristianização dos povos e a demonificação das religiões pagãs. Isto é, crenças levaram as mulheres a servirem aos homens como objetos reprodutores e donas de casa; muitas destas mulheres, inclusive, sequer podiam escolher seus pares, dado que os vínculos relacionais eram decididos pelos pais — e não pelas mães — dessas jovens.
Com o passar dos anos, a evolução natural da ciência e da tecnologia foram a liberdade encontrada para que as mulheres tivessem voz, além do falecimento de antigas ordens, leis e doutrinas violentas que conduziam à opressão e, portanto, eram continuamente colocadas em debate pela população e isso acontecesse às margens dos grandes e poderosos homens da época. Todavia, a partir dos anos oitenta e seguindo de forma crescente, as mulheres passaram a decidir por suas vidas, amores e desejos, embora ainda permaneçam na classe de indivíduos explorados pela sociedade e que encontram dificuldades ímpares para terem uma vida digna.
Os homens confundiram e confundem quem são, tornaram-se os vilões quando deveriam ser os heróis. Mas, para ser um herói é preciso autoconhecimento e altruísmo, coisas construídas a partir da autoconfiança e boa educação dadas desde a infância. Uma sociedade que falha em sua educação infantil, falhará em suas leis e ordens, as quais serão definidas por essas mesmas crianças, no futuro. Os homens possuem, em sua maioria uma fúria que os caracteriza — esta não se exprime sempre pela raiva ou comportamentos violentos, a raiva se expressa também na busca pelos seus objetivos e sonhos com mais gana, ou mesmo na insistência em de dedicar a um trabalho ou relacionamento; até na intolerância e nas lágrimas está a expressão da fúria.
Em meus artigos, raramente o leitor encontrará uma fonte científica que prove o que digo, pois que meu objetivo nestas linhas é invocar o exercício do pensamento e não provar a realidade. Peço que meus leitores avaliem, por si próprios, aquilo que existe no mundo a partir do que eles conhecem e dos novos pontos de vista explorados. Acredito que possuir conhecimento, seja qual for e em especial àquele que se é estudado, pesquisado e comprovado, é de extrema importância, todavia, no meu espaço como escritora e humana pensante, eu proponho outro tipo de compreensão de mundo. Então comecemos com a observação da fúria dos homens, vista inclusive pela capacidade deles de dominarem, por bem ou por mal.
Antes que te venha de encontro o pensamento a respeito do gênero como definição de personalidade, é importante esclarecer que a personalidade é sim definida pelo gênero, mas não só; somos seres plurais e adaptáveis, moldáveis pelo ambiente, amizades, amores, traumas, vivências no geral; não nascemos prontos e somos um conjunto de possibilidades. Nossa biologia é uma parte dela, portanto, ao fazer o seu exercício de pensar, você perceberá que contra os fatos, não há argumentos. Se a biologia individual não tivesse valor, também não teria valor a medicina. O sexo biológico vai influenciar a sua personalidade e existem características que o compõe, você querendo ou não. E assim é com os homens, que possuem essa fúria, seja qual for a manifestação dela. Mas, e as mulheres, nunca possuem fúria? É isso que estou dizendo?
As mulheres não possuem fúria, elas possuem ardor; é um pouco diferente, no entanto, os princípios são bem parecidos. O ardor possui o mesmo ímpeto da fúria, no entanto, carrega consigo uma sensibilidade maior e mais ponderada — e não estou falando da sensibilidade enquanto o ser-se sensível, isto é, frágil; não, estou falando da sensibilidade no sentido de percepção aguçada. As mulheres percebem melhor o seu universo ao redor, detalhes que fazem profundas modificações nos maiores fatos e, mais uma vez, este ardor vai se desenvolver junto com dezenas de outras influências, portanto, ele aparecerá em intensidades variadas a depender da mulher, mas sempre estará em todas. E, justamente, este ardor é que conduz boa parte da sexualidade feminina, a qual se expande pela percepção aguçada dos seus sentidos no aspecto lascivo.
As mulheres possuem desejos sexuais intensos, está em seus hormônios e em suas vivências, as fantasias conduzem suas mentes e estas não coincidem com a imagem sacra postulada pela religiosidade e cravada na consciência dos homens. Então, toda as mulheres são sexuais? E as assexuais? — Você leitor, exercite o seu pensamento com calma e cautela, e responda você mesmo a essa indagação. Ou volte ao início do texto, a resposta está lá quando me refiro a intensidade individual dos aspectos biológicos. Agora, retornamos, esse desejo que as mulheres possuem são, por vezes, reprimidos por elas mesmas desde a infância e por aqueles que estão em sua convivência; e sim, os desejos sexuais afloram mesmo na infância, mas, é evidente que não são como os nossos, nós que já somos adultos; eles possuem uma natureza própria que não nos cabe interferir — é um processo natural e particular da criança, nos cabe apenas ensinar o que é preciso a respeito do funcionamento social e guiar, com uma boa distância, orientando seus passos iniciais pela vida.
Isso, a repressão, altera toda a dinâmica adulta, as mulheres que se oprimem e são oprimidas na infância, terão profundas dificuldade em relação à sua sexualidade. Em razão de seu ardor, muitas acabam por converter seus desejos em ansiedade e vícios. Outras criam sentidos para suas vidas conduzidas por essa opressão. Cada uma lida de uma forma, mas, mesmo sendo uma “boa” forma de lidar, se a repressão e a inconsciência a respeito da sexualidade continuam existindo, nunca será um desfecho suficientemente bom. A escolha consciente é a única que merece confiança; então, se você está sendo “guiado” por uma “força maior” que define o que você faz, o que você gosta e como você lida com a sua sexualidade, desconfie e não deixe isso permanecer assim — mesmo que essa força seja um “instinto”. Nós somos animais racionais e o que nos difere dos outros animais é a racionalidade, então, devemos usufruir dela. O mesmo acontece com mulheres que foram abusadas por adultos na infância, isso destrói a sexualidade, confunde e arruína o ardor pertencente a ela. O abuso é uma forma de opressão.
Percebo, por mim e pelas mulheres que conheço, que a vida sexual delas é oprimida. Elas não se sentem confortáveis em seus próprios desejos, muitas deixam de lado suas vontades por causa de seus parceiros com “mente fechada” ou por causa de seus filhos que “ocupam demais o tempo delas”; sempre há uma razão para que elas deixem de lado o ardor que guia suas entranhas. A energia sexual — sim, a energia sexual — é responsável por nosso sair da cama em uma manhã de segunda-feira. Em minhas autoanálises e, sendo eu mesma uma mulher, noto claramente que em dias férteis, em razão dos hormônios e da energia sexual, eu trabalho melhor, sou mais feliz, tenho mais qualidade de sono e mais clareza mental, no entanto, se a energia sexual não se dissipa, seu acúmulo causa o inverso do que deveria. É isso mesmo que está ao seu entendimento, mulheres que possuem este ardor mais desenvolvido, se não transarem, terão acúmulo de energia e isso resultará em suas dores de cabeça, irritabilidade, intolerância e outros aspectos a depender da individualidade.
Não importa se farão isso com seus parceiros, parceiras, em grupo ou sozinhas. Precisam dissipar esse ardor e não se fala sobre isso, porque a sexualidade feminina ainda é um tabu. As mulheres desejam, desejam muito, almejam experiências novas, vínculos profundos, que possuam valor e que sejam aprazíveis. Eu, como mulher, digo às mulheres: não se vinculam a homens “mente fechada”, fiquem sós, mas não estejam ao lado de alguém que vá te ofender se você confessar querer sentir duas penetrações simultâneas ou se quiser comprar algum brinquedo sexual. Não fique com homens que se acharão menos homens por você ter sua coleção de objetos sexuais e por você querer usá-los em você durante o ato sexual com seu parceiro. Não tolerem homens que tirarão o seu prazer e que atormentarão a sua energia sexual, tampouco percam tempo com homens que não se dedicarão a dar prazer para vocês, não aceitem o pouco e o malfeito. Uma das razões que faz com que as mulheres sejam esmagadas pela masculinidade sombria é a opressão da sexualidade — pois é na sexualidade que encontramos nossa força para reivindicar justiça e defender ideais. Mulheres que possuem o ardor elevado em seus âmagos, têm sede por realizar seus sonhos, portanto, são elas que questionam o sistema, são elas que afrontam as injustiças, são elas que defenderam outras mulheres.
Mas, se o ardor não é dissipado para manter o equilíbrio, ele se torna uma patologia, uma doença, tudo o mais que fará com que você continue sendo uma vítima indefesa. Não deixe que ninguém, nem mesmo você, te mantenha como uma vítima indefesa que não pode fazer nada para lutar por sua própria liberdade. É disso que trato aqui, neste texto. Que as mulheres possam aceitar seus ardores, explorar suas sexualidades e que não fiquem ao lado daqueles que oprimem suas fantasias. Isso permitirá que elas sejam mais realizadas em suas vidas, que tenham mais ânimo. E para os homens que leram este artigo, espero que vocês compreendam que sem o equilibro do ardor das mulheres, vocês terão ao lado de vocês uma mulher que reclama, que está sempre cansada, com dor e impaciência. Então ouça as fantasias e desejos dela e expresse as suas fantasias e desejos, pois, um homem reprimido é tão perigoso quanto uma mulher reprimida.
E, por fim, novamente às mulheres, expressem-se sempre! E se quiserem mergulhar com mais profundidade e ter mais conhecimento sobre sexualidade a partir do exercício do pensamento e da auto-observação, leia meus artigos de sexualidade em Frenesia e vamos conversar pelo meu Instagram. Liberte seu ardor, conheça-o, domine-o e vivencie o melhor que há em si mesma.
Esse texto é para maiores de dezoito anos. Contém linguagem sexual explícita e pode conter ilustrações do mesmo teor..