Às Sombras de Scar Narcht, Canto de nº III
Se o fado eterno rege a lei altíssima*
Decerto deve haver atroz— malíssima —
Ventura então traçada em minha mão
De modo que ao crepúsculo a sanção
Enquanto eu me encontrava felicíssima
Punira-me co’a noite em gris arpão
Fincado ao centro d’alma, ó, languidíssima!
Foi quando aos céus-negror ela emergiu
E a prata-lume aos vultos afligiu
Deixando no horizonte um esplendor
De face tanto argêntea em vil fulgor
Eu vi da mi’a janela que se ungiu
Do pálido luzir versicolor
De encanto o meu semblante se tingiu…
— Quão belo! Que estupor inebriante!
Devora-me silente… angustiante! —
Clamei como menina em devaneio
Sequer notei que a aragem contraveio
Cingida à névoa lôbrega pulsante
M’ia tez a arrefecer — Demais receio…
Receio estar co’a mente delirante… —
A névoa fez-se breu tão densamente
Gemi mortificada e confidente
Pois nela reslumbrante olhos-palor
Serenos conduziram-me em pavor
Um grã pavor tão mórbido que ardente
Causava-me um enlevo inconsequente
Até se dissiparem sem pudor
Deixando-me amargura decadente
Querendo me afogar em seu horror.