Às Sombras de Scar Narcht, Canto de nº III

 

Ambrogio Antonio Alciati

 

Se o fado eterno rege a lei altíssima*
Decerto deve haver atroz— malíssima — 
Ventura então traçada em minha mão
De modo que ao crepúsculo a sanção
Enquanto eu me encontrava felicíssima
Punira-me co’a noite em gris arpão
Fincado ao centro d’alma, ó, languidíssima!

Foi quando aos céus-negror ela emergiu
E a prata-lume aos vultos afligiu
Deixando no horizonte um esplendor
De face tanto argêntea em vil fulgor
Eu vi da mi’a janela que se ungiu
Do pálido luzir versicolor
De encanto o meu semblante se tingiu…

 — Quão belo! Que estupor inebriante!
Devora-me silente… angustiante!
 — 
Clamei como menina em devaneio
Sequer notei que a aragem contraveio
Cingida à névoa lôbrega pulsante
 M’ia tez a arrefecer — Demais receio…
Receio estar co’a mente delirante…
 — 

A névoa fez-se breu tão densamente
Gemi mortificada e confidente
Pois nela reslumbrante olhos-palor

Serenos conduziram-me em pavor
Um grã pavor tão mórbido que ardente
Causava-me um enlevo inconsequente

Até se dissiparem sem pudor
Deixando-me amargura decadente
Querendo me afogar em seu horror.

Sara Melissa de Azevedo

Como Escritora, tenho inúmeros semblantes, sempre em busca do lírico, do intenso e do profundo. Como Poetisa, tenho a eterna sensibilidade e a vívida paixão. Como pessoa comum, sou mais uma na multidão em busca de compreender a si mesma. SAIBA MAIS

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