Melancolia de Outono
Pois que a vida me parece decadente…
Ó! Ser que voa níveo entre flores
Compr’endes poesia em mi’as dores?
Estou já delirando lentamente;
Só n’altura da inefável estação
Emanas tu o bálsamo nectáreo
Criatura de tal rara composição
Reluzes como quartzo solitário;
Quão harmônica é a tua simetria
N’este teu rastro de adorável leveza;
É límpida em graça a cinesia,
Estás longe de sentir a estranheza
Que aquém, anfêmera, cresce
Segredando sua morta sinfonia,
Enquanto a humanidade se aquiesce
Sob a própria, e triste, astenia;
Como bênção daninha é a razão
Que recria teu invólucro de outrora
E faz-me ponderar tua mutação
Vinda ao despertar na certa hora;
Eu que me assemelho me tumulo
— Ó, como vem pesar de angústia a mente! —
Na eterna permanência em meu casulo,
Pois que a vida me parece decadente.