Encontrar o Silêncio

 

Ariadne - Jean-Baptiste Greuze - Séc. XVIII

 

Escritora angustiada nos tempos livres; para onde carregarei as angústias da existência emergidas no prelúdio tão inocente? Quem verdadeiramente observa os grãos de areia? Na verdade, apenas pisamos sobre eles, sobre as pequenas realidades inimagináveis e, consequentemente, a nossa própria realidade.

Eu preciso de mais do que isso. Estar aqui não tem me levado a lugar algum além do vazio, será que há oxigênio lá fora? Será que há sentidos lá fora? Fora de tudo isso…

Minha alma é inquieta, dizem, volúvel; talvez seja isso e, se não for, o que será? Eu não me adéquo à modernidade, nem ao passado e, o futuro, há de vir? Eu não sei, no entanto, se vier, que seja diferente, que alcance o melhor que eu poderia um dia querer.

Nunca entendi o significado de deixar-se ser o que se é e minhas árduas tentativas de exercer o conheça-te a ti mesmo parecem sempre vãs; estou prisioneira dos martírios de quem foi jogado no mundo na incerteza do antes e no vazio do depois.

Alguns sorriem na estupidez, outros veem mais do que suas expressões faciais imperfeitas diante do espelho da alma. Alguns, não conseguem se amar.

Rarefeita.

Meu gato me faz companhia, dorme o dia inteiro, mas às vezes mia para mim e se eu ando no quintal ele me segue. Ele não gosta de ficar sozinho, ele não é um perfil de uma rede social. Ele está aqui. Mas eu, talvez, nunca tenha de fato estado aqui para ele.

Essa pandemia me destruiu… não, eu não estava inteira antes dela, eu estava destruída também, mas, no tempo que me sobra trancafiada, não posso fugir como antes eu fugia. Eu não quero mais continuar destruída… eu estou exausta de elogios e críticas, de comparações, afetos e ódios.

Eu não preciso e não quero nada disso. Eu nunca precisei e se um dia eu quis, foi por pura e juvenil tolice. Eu não sou nada disso que se mostra e eu estou cansada das sílabas contadas quando, no íntimo do meu coração, tudo o que há é silêncio.

Eu prefiro — e como eu almejo — mergulhar de uma vez nesse silêncio… porque sei que posso me encontrar nele, mesmo que eu me perca do mundo.

 
 
Sara Melissa de Azevedo

Diga-me, apreciaste esta obra? Conta-me nos comentários abaixo ou escreva-me, será fascinante poder saber mais detalhes da tua apreciação. Eu criei esta obra com profundo e inestimável amor, portanto, obrigada por valorizá-la com tua leitura atenta e inestimável. Meu nome é Sara Melissa de Azevedo. Sou Escritora, Poetisa e Sonurista. Formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial. Sou a Anfitriã dos projetos literários Castelo Drácula e Lasciven. Autora dos livros “Sete Abismos” e “Sonetos Múrmuros”. SAIBA MAIS

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