Imagem criada por Sara Melissa de Azevedo com a ferramenta Midjourney

Disparada seguiu pelos claustros do castelo Vonssihren, embora mantivesse sua elegância; a aragem era doce e tenra, beijando seu rosto com a serenidade de um amanhecer, conquanto o crepúsculo se anunciasse no horizonte. Buscava, Sorinne, por sua amiga Anne, em partes desejava contar-lhe que, porventura, o amor, em busca do lume que o guia, tivesse, por fim, ascendido com suas primeiras folhas para acima da terra úmida. No entanto, em contrapartida, queria uma solidão que lhe afagasse as emoções mais intensas; n’este estar-si-só, Sorinne poderia refletir no ocorrido e, quem sabe, dedicar-se à lembrança do restaurador de livros, continuamente. Todavia, por infortúnio, suas opções foram fendidas por um desagradável encontro.

Se-senhorita Sorinne! — A voz era afinada, o semblante suado expressava a surpresa da súbita colisão que tiveram ao virarem, ambos apressados, na aresta que levava aos dormitórios femininos. Sorrine, desconfortável, arfou sua impaciência com a força suave de seus pulmões. — Pe-pe-perdoa-me…

— Perdoar-te-ei se tu deres-me licença… — N’uma rápida reverência, Sorinne tentou passar por Magnus para, assim, seguir seu caminho. Mas fora impedida por ele que, inábil, a impediu colocando-se frente a ela enquanto enxugava seu rosto com um pequeno pano que retirara de seu bolso. — Como ousas?

E-eu buscava… pela… senhorita… Pre-preciso… — A expressão da senhorita Vonphennen poderia incinerar quaisquer indivíduos impertinentes, se tal poder ela possuísse. Magnus movimentava-se a procura de algo em seus bolsos. Demorou, para Sorinne, uma eternidade; até que um papel amassado foi segurado pelas mãos ensopadas do senhor Nohrantii, o qual, pelo nervosismo, já sentia um certo arrependimento pelo que ainda sequer fizera. Mesmo assim, pensou ele, já estava ali, não haveria mais possibilidades de fuga.

Magnus era um homem esguio; ficava à mesma altura de Sorinne que tinha a estatura um pouco acima do que previa a sua linhagem. O rosto do sujeito era oval, seus olhos eram de um verde-musgo. Sorinne o odiava apenas por odiar, não havia razões razoáveis para tal desdém. No entanto, naquele hórrido encontro, sentiu que a razão mais plausível para o seu ódio era a lentidão com que o senhor Nohrantii comportava-se, sem nenhuma segurança de si mesmo.

A-amada… — Magnus respirou fundo, tentando ler o que redigira naquele pequeno papel. E assim o fez, com o esforço verossímil de suas intenções.

“Amada Sorinne
Sol da manhã
Concedo-te um poema
Escrito na manhã
No pensar do teu rosto
Feminil e delicado
Como um quente pão moço
Cheiroso, quente…
Como és…
Como teus belos pés…
Sol minha, da manhã”.

Fascinante… — Sussurrou Sorinne, não fora ouvida. Seu desânimo diante os versos de Omir consumiam-na com uma impetuosidade pavorosa. Magnus entregou-lhe o papel em seu estado anojoso. Sorinne segurou com a ponta dos dedos.

O que achas? — Magnus a olhava com atenção e na tentativa de estar próximo, impunha-se contra ela, a qual se afastava como podia. Sorinne bocejou.

Continue treinando… — Virou-se para seguir, mais uma vez, o seu caminho; no entanto, o odiado a impediu pela terceira vez, segurando-a pelo braço esquerdo.

Quero saber! — Sua fina voz fremeu dando-lhe um tom mais sólido e seus olhos, de um verde-musgo, pareciam como dois poços de escuridão. Sorinne ficou incrédula com a ousadia de Magnus e, surpresa, não soube como reagir n’um primeiro momento, apenas percebia a umidade daquela mão em sua tez.

Retira tua mão de mim! — Um silêncio pairou entre eles.

N-não. Até me dizeres… o que achaste? — Sorinne se enfurecia de tal modo que sentia seus olhos flamejarem. O aroma que advinha de seu desagradável odiado, lhe enojava. Então forçou para que seu braço se desprendesse. Foi em vão. Magnus, obstinado e, decerto, descontrolado, a segurou com ainda mais violência, o suficiente para lanciná-la. 

Embora Sorinne fosse uma mulher forte, em especial de alma e caráter, por vezes sentia-se sensível quando situações desagradáveis perdiam o controle diante dela. A dor em seu braço fora o estopim para o lacrimal nascer em suas retinas e a fúria, amargando seu coração, parecia ter nascido dentro de suas veias, como resposta de seu organismo.

Péssimo! Sequer devia ser denominado poema. Rimas idênticas? Que falta de criatividade! Mencionar meus pés? Comparar-me a um pão? Tua infâmia impudica exala junto com teu suor e, mórbida, desonra a poética. Afasta-te de mim agora, ou gritarei o suficiente para ser ouvida por Dom Vonssihren. — Magnus a desprendeu, sua feição era de amargura e seus pensamentos eram, de fato, perversos. Desejou tomá-la à força, escondê-la eternamente em uma gruta perdida para, então, obrigá-la a amá-lo. No entanto, ele possuía um genuíno pavor de Vonssihren, em razão de suas políticas para com o império que leva seu nome e, em especial, pelas histórias a respeito de seus poderes sobrenaturais. Dom Vonssihren, pelas lendas, era capaz de saber a verdade da essência de um sujeito com o proferir de, tão somente, duas únicas palavras em seu idioma oculto.

Sorinne deixou o local, mais célere do que outrora ali havia chegado. Lágrimas escorriam como pequenas estrelas mortas em sua face e, por longas horas, sentiu-se contaminada e suja. Esquecera de sua recém-alegria; temera sofrer outra vez, vestira suas angústias como de costume e pelo espelho viu o estigma em seu braço, bem visível, um leve contorno violáceo dos dedos de Magnus — que se arrependera de suas ações naquela mesma noite, quando Dom Vonssihren o convocara à sua sala-mestral.

Sara Melissa de Azevedo

Diga-me, apreciaste esta obra? Conta-me nos comentários abaixo ou escreva-me, será fascinante poder saber mais detalhes da tua apreciação. Eu criei esta obra com profundo e inestimável amor, portanto, obrigada por valorizá-la com tua leitura atenta e inestimável. Meu nome é Sara Melissa de Azevedo. Sou Escritora, Poetisa e Sonurista. Formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial. Sou a Anfitriã dos projetos literários Castelo Drácula e Lasciven. Autora dos livros “Sete Abismos” e “Sonetos Múrmuros”. SAIBA MAIS

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